É incrível, triste e lamentável, vivermos ainda em uma sociedade tão preconceituosa, tão “puritana”. É mais desolador ainda, percebemos como nosso judiciário, onde partimos do pressuposto em que lá se encontram pessoas com alto e bom nível intelectual, agirem de acordo com suas convicções próprias. A Justiça não pode agir baseado na convicção pessoal daqueles que são investidos em cargo público, que estão a serviço do bem comum, da ordem pública, das garantias fundamentais, enfim, cumpridores da Lei.
Ao ler a matéria que segue abaixo, fiquei indignado com esse “promotor” ( ele é quem deveria perder o cargo que ocupa)que pra mim é no mínimo um preconceituoso. Ele não sabe nada do que é transexualidade, e pelo visto nunca quis saber, pois, se fosse tentar entender um pouco, jamais acusaria o casal de “anormal”. A transexualidade é inerente à vontade das pessoas; e uma pessoa transexual pode nascer em qualquer meio social, pois como dito não se escolhe ser. O sofrimento de uma pessoa transexual é quase infindável. Mas pra quem não sabe de nada, é mais fácil apontar o dedo, atirar a primeira, segunda, terceira e sucessivas pedras. Quando se está na pele daquele que sofre a causa, que vive à margem da sociedade, as coisas então são vistas de outra maneira. Enquanto o problema é do outro, foda—se, né? Vou querer entendê-lo por quê? Cristo ensinou e pregou o amor há mais de 2000 anos atrás... Mas o egoísmo, as crenças pessoais, os ensinamentos “cristãos” que beiram ao fanatismo, as religiões de uma maneira em geral, continuam estipulando regras de “bom convívio”, não importando se o que se foge a tais regras vivifica o amor.
Bom, foi só um desabafo. O que penso sobre a matéria abaixo está nas palavras da advogada Stella Schiavotelo, que foi perfeita em sua análise e com a permissão da mesma, posto aqui, no blog.
A cabelereira Roberta Goes Luiz, 30 anos, perdeu a guarda de um bebê de 11 meses adotado por ela e seu companheiro. O Tribunal de Justiça acolheu o recurso do Ministério Público que pediu a retirada da guarda da criança por considerar o casal, residente na cidade de São José do Rio Preto, “anormal”.
Segundo o Promotor Cláudio Santos Moraes, a criança não levaria uma vida “normal” sem a presença de um pai e de uma mãe. Alegou, ainda, que a criança poderá ficar revoltada quando descobrir que foi criada por uma família homossexual. “É uma convicção minha. Uma família normal tem mãe mulher e pai homem. Roberta é homem. Uma criança não pode viver neste ambiente, precisa de uma família decente. O dia em que eu, como promotor, não puder fazer prevalecer minha convicção, desisto”, disse o promotor ao jornal Bom Dia de São José do Rio Preto.
A guarda provisória havia sido autorizada pela Justiça de São José do Rio Preto com base em laudo psicossocial. O Promotor não satisfeito com a decisão entrou com recurso ante o Tribunal, requerendo a retirada da guarda provisória. Após a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, a criança foi enviada para um abrigo onde permanecerá até ser determinada com quem ficará a guarda definitiva.
Roberta passou por uma cirurgia de mudança de sexo após se submeter a uma série de exames multidisciplinares (avaliações psicológicas, psiquiátricas, físicas etc), sem conseguir ainda, entretanto, mudar o seu sexo nos documentos pessoais.
____________________________________________________________
Opinião da Stella Schiavolato (http://doutoraresponde.blogspot.com)
Até que ponto o Ministério Público zelou pelo interesse da criança? De certo que talvez a inserção em uma família de padrões diferentes poderia causar alguns distúrbios de comportamento no futuro, mas a isso nossas crianças também estão expostas. Além disso, creio que um risco futuro não pode ser supervalorizado em vista de um risco ATUAL que é a estada da criança em uma instituição para menores.
O bebê estaria melhor no lar adotivo ou na instituição?
Quanto aos distúrbios comportamentais, várias crianças oriundas de famílias convencionais apresentam desvios sérios de comportamento, seja pela permissividade das mães que trabalham fora e não conseguem disciplinar os filhos, seja pelos casamentos de aparência que geram outros "n" comportamentos pouco ortodoxos.
O cerne da questão ainda é a falta de regulamentação. Muitos juízes ainda entendem que o termo família apenas engloba a relação homem x mulher, motivo pelo qual esse tipo de decisão vem sendo vista nos Tribunais do país.
Em que pese o entendimento do Douto Representante do Ministério Público que pediu a revisão da guarda provisória, acredito a simples alegação de futuros danos à criança insatisfatória.
Algumas crianças desenvolvem fobia ao casamento por verem pais "normais" brigando o tempo todo, por exemplo. Outros, ao contrário, tornam-se dedicados esposos e esposas visando dar aos filhos um panorama diferente do que tiveram quando crianças. Assim, para a mudança de guarda é necessaria uma verdadeira prova de atual prejuízo à criança, mesmo porque o futuro nos é desconhecido.
Feliz 2024!!!
O exemplo do vídeo acima, é isso que te desejo pra 2024. Que a gente não esconda a saudade! Que a verdade prevaleça! Que os bons sen...
-
Por mais que a gente tente dizer pra nós mesmos que não nos importamos muito com opiniões e atitudes alheias, isso é uma quase verdade, pel...
-
Eu poderia passar um bom tempo aqui falando de todas as maldades da Receita Federal, do Governo, todas praticadas contra o contribuinte e s...
-
A idade é minha amiga. O tempo me faz bem. As pessoas brigam com o tempo, numa luta contra o "fim". Não há fim. A vida segue aqui...