" Todos nós nos encantamos quando vemos nos filmes pessoas vencerem suas limitações, encontrarem um novo amor, enfim, renascerem de si mesmas... Deixando de lado a visão mística da fênix que faz o seu caminho pelas cinzas, tenho observado que este renascimento é muito mais comum do que aquilo que o cinema nos traz.Devo concordar que o romance, as imagens bonitas, as palavras certas e as músicas transformam na telona a realidade num sonho bonito e atraente o que nos faz desejar viver aquilo tudo. Rotina não é fácil, acordar todos os dias e saber o que a vida nos reserva já dá um cansaço e um desencanto, por isso tenho visto com muita alegria a chegada de um período que chamei de a “segunda vida das mulheres”. Comecei a chamar assim esse momento muito especial que todas nós passaremos um dia.Veja que bacana a modernidade. Nos tempos mais antigos simplesmente iríamos nos referir a esta fase como a aposentadoria. Com o decorrer do tempo, o colorido deste momento se tornou tão intenso e tão cheio de nuances que não se resume mais a se retirar de um trabalho fixo e maçante, mas de um momento de reencontro consigo mesmo e com seus valores. Falo das mulheres porque faço parte da espécie, mas isso se refere a todos nós, pois parece que o mundo se esqueceu que entre a juventude e velhice existe um grande momento que depois dos percalços de casamentos, trabalho e mais trabalho, criação de filhos, e refazer a vida algumas vezes tentando melhorar, finalmente nos deparamos num outro porto desconhecido que é a maturidade. Um momento ímpar em que já não temos filhos pequenos para criar, nem a ambição de conquistas materiais que muitas vezes comprometem nossa integridade... Nesta fase madura, porém cheia de vitalidade, paixão pela vida e, felizmente, cheia de desafios muitas pessoas perdem um pouco a identidade e se questionam com o rumo que deram às suas vidas, fazendo a si mesmos perguntas difíceis de responder, tipo:“Por que não consegui me casar e ser feliz no amor?”“Será que não ter filhos hoje terá um peso diferente na minha vida?”“Do que realmente eu gosto?”“Será possível encontrar um outro tipo de trabalho que complemente a minha renda, hoje reduzida pela aposentadoria e ainda ser livre e feliz?”Norma, uma médica cirurgiã, que já me conhecia há alguns anos veio numa consulta depois da morte do pai. Nascida no Rio Grande do Sul e sediada há mais de trinta anos em São Paulo queria comprar as terras que o pai deixara e que seriam naturalmente partilhadas entre todos os irmãos. Contrariada com a perda não queria que a memória do seu pai se dissolvesse e que tudo aquilo que ele havia construído fosse simplesmente levado pelo tempo. Como estivesse se aposentando, viu-se em condições de assumir o compromisso financeiro da compra e, mais angustiada do que feliz, veio até a mim procurando respostas de sua alma. Foi interessante que logo no começo da sessão, sua alma, captada por minha sensibilidade, pedia liberdade. Ela que tinha sido numa vida passada uma camponesa que se dedicara totalmente à família e à criação dos filhos, nunca tinha ouvido o seu coração que pedia uma vida com mais desafios. Ela queria viajar, estudar, conhecer e aprender coisas novas com as pessoas. O final da vida daquela mulher tinha sido triste olhando a beleza da natureza sem ver de verdade o que estava à sua frente, tão presa em seus pensamentos ela estava.Quando voltamos da sessão de vidas passadas, Norma me olhou profundamente e com lágrimas nos olhos apenas me agradeceu. Depois de alguns meses, através de uma amiga em comum ela me enviou um presente, um livro de uma socióloga francesa Christine Collange com uma linda dedicatória, o título era “A segunda vida das mulheres”. Foi com muito carinho que devorei as páginas do livro que nem eram assim tão atraentes, mas se referiam exatamente a essa questão que tanto vibra em nós mulheres: uma segunda chance, uma nova oportunidade de fazer escolhas, um recomeço.Sei que muita gente tem medo de recomeçar, tem medo do divórcio, tem medo de não encontrar um novo emprego, tem medo de fazer e assumir novas escolhas como se não estivessem fazendo isso o tempo todo...Sim, porque é bom observar que fazemos escolhas todos os dias. Podemos escolher ficar com raiva de alguma situação difícil do nosso caminho, ou simplesmente escolher olhar de outra forma; podemos sim nos separar e começar tudo de novo. Podemos escolher a solidão a permanecer numa relação triste. Podemos mudar de emprego, de amor, de profissão, se assumirmos a força e a responsabilidade deste movimento. Por que não?Aprendi com os Mestres que não fazer escolhas e simplesmente nos deixar levar pela vida também é uma escolha...Você, inclusive, já deve ter ouvido que se peca por omissão. Não é?Porém, sei que muita gente nem se dá conta que está sendo omisso. Vejo muitas mulheres super preocupadas com sua família ou com sua profissão que quando despertam desta enorme ilusão do controle se vêem sem mais nada pela frente. Casar os filhos, ou deixá-los estudar fora, por exemplo, põe muita gente em choque. Assusta demais. Da mesma forma que pensar na aposentadoria também levanta uma pesada bruma sobre as pessoas. Aquele tempo de férias constantes, de viagens, de sonhos e de tempo livre para fazer o que se deseja, de repente, bate à porta muito antes do que esperamos e, então, o que fazer?Claro que não podemos impedir as experiências da vida, nem devemos tentar controlar tudo ao nosso redor porque ninguém sabe exatamente aonde a vida vai nos levar. Surpresas podem acontecer o tempo todo e segurança ninguém tem. Então o que fazer?Se preparar para esta nova fase consciente e feliz da vida é um dos conselhos.Viver intensamente, não adiando as coisas para um futuro melhor, é outra dica importante.Cuidar da parte espiritual e pensar nos seus valores e crenças, então, é algo inadiável. Assim, meu amigo leitor, não perca tempo idealizando o seu caminho. Como dizem os Mestres: “Viva hoje como o dia mais importante de sua vida!”E, para as mulheres, desejo a vocês o que desejo para mim mesma: envelhecer com classe e sem medo. Com a possibilidade de me arrepender apenas daquilo que não fiz"...
By Maria Silvia Orlovas.