Terra Santa - Parte IV

Depois de um completíssimo café da manhã, em um maravilhoso hotel em Nazaré, partimos para Cafarnaum, na verdade, descemos para Cafarnaum . Há um relato bíblico que, após o milagre de Caná, Jesus desceu para Cafarnaum ( Jo 2:12). 

As paisagens são belas, as mais belas até chegarmos às margens o lago da Galiléia. Antes, porém, paramos em Tabgha, local onde ocorreu a multiplicação dos pães e peixes. Como já relatei, as cidades ou melhor, os vilarejos eram  bem próximos . Um caminho que levava ao outro. Tudo muito perto.

Ao atravessarmos a Galiléia, percebemos as grandes plantações de oliveira. Sempre a oliveira. Não à toa, é uma árvore de importante significado cultual, econômico e espiritual na Terra Santa até os dias de hoje. Isso se comprova pelo fato de que os arqueólogos encontraram sementes de oliva(azeitona) em muitos assentamentos da o pré-história ( nos afirma o guia local), mostrando que a oliva foi uma das primeiras árvores cultivadas pela humanidade. Isso confere com a Bíblia, que apresenta a árvore em uma de suas primeiras histórias: “ Noé esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba fora da arca. À tarde, ela voltou a ele; trazia o bico uma folha nova de oliveira. Assim entendeu Noé que as águas haviam baixado na terra” ( Gn 8:10 e 11)

A oliva era muito importante pois, quando espremida, fornece óleo (azeite) que ao ser colocado em uma lamparina, tornava-se a principal fonte de luz na época bíblica. Também o mesmo óleo, servido com pão de trigo na mesa, era um dos principais alimentos. Nosso guia nos relatava que, 50% da alimentação era pão molhado no óleo de oliva e frutas. Comer peixes e carnes era coisa rara, pois o que se pescava era vendido para sustento das famílias. Peixe e carnes eram verdadeiros banquetes, pra poucos. Por isso, quando Jesus multiplicou os peixes, ofereceu um verdadeiro banquete ao povo. 

Além disso, o óleo também era usado como remédio “ E , chegando-se, tratou de seus ferimentos, aplicando-lhes óleo”( Lc 10:34). Ainda na época bíblica, o óleo de oliva tinha uma importância espiritual extraordinária. A cerimônia de coroação de um rei chamava-se unção, quando um profeta derramava o óleo na cabeça do escolhido, que era assim “coroado”. Percebam o seguinte: em hebraico, o ato de ungir chama-se “mashiarr”, que foi aportuguesada para “messias”. Logo , quando a bíblia foi traduzida ao grego recebeu o termo correspondente “Kristos”. Ou seja, Jesus Cristo quer dizer Jesus o Ungido. E vale lembrar : seu nome original era Yeshua, que em hebraico significa “salvação”. Tudo lindo. Toda história linda.

Chegamos a Cafarnaum.O local que mais gostei (e vou voltar para ficar mais tempo). Uma paz, uma sensação... Uma íntima sensação...

Enfim, nas margens do Lago da Galiléia, Jesus estabeleceu o centro de suas atividades, num vilarejo chamado Cafarnaum, que a Bíblia chama de “sua própria cidade” ( Mt 9:1). Nosso guia nos relatava que a área de Cafarnaum, foi comprada pela ordem franciscana no século XIX, e eles mesmos fizeram um  trabalho de arqueologia no local, recuperando do subsolo a cidade da época de Jesus.

Ao visitarmos as ruínas da cidade, percebe-se que todo vilarejo foi construído com rocha local, o balsato ( pedra bem escura resultado da atividade vulcânica) Aliás, assim que vamos chegando, a gente percebe uma fumaça saindo das terras... Os vulcões continuam ali...

Bom, caminhando pelas ruínas, advinha qual objeto foi encontrado e está exposto para conhecimento???? Uma prensa de oliva. Sempre a oliva!!!

Na época do Mestre, Cafarnaum , apesar de  um pequeno vilarejo, estava geograficamente em uma localização estratégica.Naquela época, Cafarnaum marcava o fim do reino de Herodes Antipas ( parte das terras que estavam sob seu domínio) e, logo adiante,começava o de Felipe. Alertava-nos nosso guia que, em locais fronteiriços, até hoje há dois tipos de  funcionários: guardas e coletores de impostos.Foi nesse local que Jesus encontrou Matheus, o coletor de impostos que se tornaria um de seus 12 apóstolos e, segundo aponta a tradição, um dos quatro evangelistas.

Ainda percorrendo as ruínas descobertas, nos deparamos com uma sinagoga. Segundo também os arqueólogos, foi um oficial romano que havia dado de presente aos judeus a sinagoga ( Lc 7: 1 a 5). Aliás, local onde  Jesus pregou e realizou muitos milagres.

Gente, olhando para as casas de Cafarnaum, lembramos que o conceito de casa na época de Jesus era bem diferente da atualidade. Cada casa era habitada por mais de um núcleo familiar. As pessoas também utilizavam suas residências apenas para dormir, passando  a maior parte do tempo em campo. Cafarnaum era um local de gente humilde. Em Cafarnaum também residia Pedro e visitamos as ruínas de sua casa. Pedro, o mais famoso residente de Cafarnaum... da casa de Pedro, alguns passos você já se encontra na margem do Lago da Galiléia... Os evangelistas tinham razão em citar como mar. Não tem como achar aquela imensidão um lago...  Ainda mais depois de navegar sobre o mesmo.É de fato como o mar.

A casa de Pedro, depois a morte do  apóstolo, foi transformada numa igreja residencial. Talvez um local discreto para reunião dos primeiros cristãos. E como Jesus  não dispunha de recursos financeiros, quase unanimidade concluir que ele se hospedava  na casa de Pedro.

Ali, já caminhando pelas areias, olhando os montes, com os pés descalços, imaginando que por ali o mestre andou, ensinou, alimentou-se e alimentou... Banhou-se, curou, ensinou... Viveu... Percorremos mais uns passos , mas ainda à margem do lago, em um pequeno monte, onde proferiu o sermão das montanhas, segundo a tradição local!!! A Pedra onde ceiou com seus discípulos tantas vezes... Sobre esta pedra, construíram uma igreja: a igreja do primado de Pedro, que também encontra-se sob tutela dos Franciscanos. É tudo divino. É tudo extraordinário e ao mesmo tempo tudo simples. Não falo dos monumentos que construíram para este tempo; falo do que encontramos daquela época...  Contemplar aqueles montes e o  infinito daquele lindo lago e saber que os meus olhos puderem contemplar a mesma paisagem que nosso mestre contemplou... Emoção sem fim!

Eu amei tanto  Cafarnaum que poderia falar e falar muito mais  coisas... Mas vamos pra frente porque o dia ainda nos levaria ao Rio Jordão e a um passeio de barco pelo Lago da Galiléia.

Antes, porém,  fizemos uma breve parada em Tiberíades para o almoço. Tiberíades fica do outro lado da margem do lago. Por lá, vê-se outra cidade, bem mais moderna, com gente  passeando de Jet ski, grandes hotéis e restaurantes. Provavelmente, Tiberíades já era uma cidade "pra frente” desde ou até mesmo antes da época de Jesus e, talvez, por esse motivo, nada se relata de significativo naquela região na época do Mestre, considerado que Ele buscava os locais mais singelos, de pessoas simples. Posso estar enganado, mas há um única passagem bíblica mencionando Tiberíades.

Depois do almoço, partimos para o Rio Jordão!!!

O local onde nós fomos não foi exatamente o local onde Jesus foi batizado. O local exato nós visitamos no dia seguinte, e fica bem peto de Jericó, lá nas proximidades do deserto da Judéia, ou seja, no deserto onde o rio se aproxima do Mar Morto. Lá, no local exato, a água é bem barrenta. Não dá pra banho. Fora isso a segurança é precária... Tem uma espécie de fronte do exército de Israel e você precisa ser autorizado a entrar na área ( mas falou que é brasileiro, falou a palavra mágica. Passaporte garantido. O triste é que quando anunciamos ser brasileiro a primeira coisa que dizem é “ Neymar” ... Nada contra o moço, mas sem comentários)Falo melhor no próximo post.

Assim, onde o rio corre com águas mais límpidas é o ponto crucial e local onde as pessoas renovam seu batismo ou realizam batismo, um local distante do deserto, mais próximo da Galiléia. Vale ressaltar que as águas do Rio Jordão já eram consideradas especiais muito antes de Jesus ser batizado. Numa terra com escassez de água, onde quase todos os rios secam durante os longos meses de verão, a visão do Jordão correndo o ano todo deve ter impressionado a mentalidade antiga. Quando os israelitas, vindos do deserto, entraram na Terra Prometida liderados por Josué, o Jordão se abriu para eles passarem e isto foi interpretado pelos comentaristas bíblicos como uma purificação feita por estas águas.

O Imperador Constantino, que converteu-se ao Cristianismo, foi perguntado no leito de sua morte se havia algo que faltou fazer em sua vida. Respondeu expressando sua frustração por não ter sido batizado no Rio Jordão, conforme relata o historiador cristão Eusébio. Gente, aqui fica claro o privilégio que foi estar neste lugar!

Nesse ponto do Rio Jordão, há uma loja que vende artigos religiosos e alugam batas para você entrar na água... É uma “exigência” no local. Na verdade uma bobagem ( quem quer entrar com bata eu respeito. Mas exigir?). Só pra ganhar dinheiro!!! Do outro lado da margem, área particular, havia gente de sunga e bebendo... Não estou dizendo que um peregrino deve entrar lá de sunga, tão pouco com bebida na mão. Mas exigir U$25,00 por uma bata  ou U$10,00 de aluguel da bata é puro comércio. Enfim, comércio à parte,  curti entrar no Rio Jordão e banhar-me à vontade!A água é tão limpa que você nada com companhia  dos peixes.

Pra terminar o maravilhoso dia, fomos passear de barco pelo Mar da Galiléia!O barco estava à espera exclusiva do nosso grupo. Não poderíamos terminar o dia de forma melhor. Quanta saudade...

Eis a oliveira!( da época de Jesus)

Cafarnaum

Ao fundo Lago da Galiléia

Passeando por Cafarnaum

Ao fundo: Lago Galiléia

Igreja construída bem próxima do local onde ocorreu o sermão das montanhas ( pela margem do lago)

Entrada da Igreja.

Igreja do primado de Pedro.Ao fundo o lago da Galiléia.

Margem do Lago da Galiléia. Infelizmente o sol estava forte e de frente para as câmeras.

Vou  voltar e tomar banho aqui!!!

Sinagoga da época de Jesus.

Igreja construída sobre as ruínas da casa de Pedro.

Estátua em homagem a Pedro.

Rio Jordão

Navegando sobre as águas onde Jesus andou e realizou muitos milagres.

Navegando pelo Lago da Galileia.

Lago Galileia 

Pedra onde Jesus ceiou com os apóstolos.Aqui foi construída a igreja do primado de Pedro.

Lago

Mãe e tia.

Ruínas de Cafarnaum

Cafarnaum

Rio Jordão.

Mãe, renovando seu batismo com Pe. Itamar.

Experimentando os 07 mergulhos tal como Naamã.

Então Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será curada e ficarás purificado." 2 Reis 5:10

Navegando

Parte das ruínas da casa de Pedro. Lembrando que as casas não  possuíam teto ( eram cobertas e folhas de tamareiras) Construiu-se uma igreja sobre  o local. É de dentro da Igreja que se tem uma visão panorâmica.

Um outro lado do lago, para embarcar.

Povo de Angola , povo cristão.( Cafarnaum)

Saudades...

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